• Conheça nosso jeito de fazer contabilidade

    Lorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipiscing elit. Vestibulum sit amet maximus nisl. Aliquam eu metus elit. Suspendisse euismod efficitur augue sit amet varius. Nam euismod consectetur dolor et pellentesque. Ut scelerisque auctor nisl ac lacinia. Sed dictum tincidunt nunc, et rhoncus elit

    Entenda como fazemos...

Notícia

Por que a confusão sobre o corte de gastos no orçamento?

Pouca competência na área da comunicação leva à proliferação de versões inverídicas sobre os efeitos da PEC 241, que congela os gastos públicos para tapar o rombo fiscal

Em sua edição desta quinta-feira (13/10), a Folha de S. Paulo publica uma charge altamente tendenciosa intitulada “Brasil, 2036”. Nela, há o desenho de uma escola em ruínas e um professor que anuncia, como “boa notícia”, o fato de o governo ter liberado verba para a compra de giz.

E uma versão derivada da fortíssima corrente política para a qual aPEC 241 (teto de gastos) pretende, nada mais, nada menos, que acabar com a educação e com a saúde no Brasil.

É previsível, em conformidade com a democracia, que a oposição utilize uma linguagem até caricatural ao se referir às intenções do governo.

Mas ao tomar conta do espaço de discussão dentro das redes sociais, a oposição também demonstra que o governo, mais uma vez, abriu mão da competência em comunicação para explicar o que pretende.

Deixemos de lado afirmações como as da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), para quem a crise fiscal não tem nada a ver com os gastos excessivos do governo Dilma.

Seria apenas a soma dos juros altos com a queda da arrecadação, provocada pelas pautas-bomba votadas no Congresso.

Mas vejamos. O projeto de Orçamento para 2017 já foi enviado em agosto ao Legislativo. Para a saúde, o piso constitucional seria de R$ 11 bilhões (15% da receita corrente líquida da União). Pois foi enviada uma previsão em R$ 8 bilhões maior.

Tanto quanto a educação, a saúde não entra no congelamento das despesas para o ano que vem. O congelamento só vale para o Orçamento de 2018.

No caso da educação, o governo federal não é responsável pelo ensino fundamental e secundário. Essa atribuição é dos Estados e municípios, que estão fora da PEC.

A União financia apenas as escolas técnicas sob sua alçada e as 63 universidades federais. Mesmo assim, o Planalto e a equipe econômica fixaram para 2017 um Orçamento em R$ 33 bilhões acima do piso constitucional.

COLOCARAM ATÉ O IPEA NA CONFUSÃO

Tudo parece relativamente claro. Mas eis que a mídia informa que essa previsão racional é desmentida pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), instituição de excelência ligada ao Ministério do Planejamento.

A notícia, que repicou de imediato nas redes sociais, afirmava que nos próximos 20 anos a saúde perderia R$ 740 bilhões.

Dois enganos graves em tudo isso. Primeiro: não é estudo do Ipea, conforme desmentido da direção do instituto.

Segundo: o cálculo supõe que as receitas do governo vão crescer nesse longo período, e que o Orçamento deixará de remunerar a saúde segundo o piso constitucional, atingindo-se essa imensa e fantasiosa quantia.

Com relação à educação, novos delírios. As universidades federais têm uma estrutura que escapa aos padrões internacionais, com peso orçamentário da burocracia (atividade meio) bem maior que o peso orçamentário de técnicos e professores (atividade fim).

Dentro da própria Universidade de São Paulo (USP), que não é federal e não será atingida pela PEC, sobrevivem modelos diferentes.

A Escola de Comunicações e Artes (ECA) custa bem mais em termos de burocracia que a Faculdade de Economia e Administração (FEA).

Essa última terceirizou há duas décadas toda atividade meio, dos seguranças aos programas de registro de presença ou avaliação discente.

Ou seja, as universidades federais podem continuar a crescer. Mas precisam modernizar seus modelos de gastos.

Se for para manter o peso excessivo da burocracia – que é sindicalmente forte -, elas tendem a minguar em ensino e pesquisa. A escolha será delas e não do governo.

UM FAZ DE CONTA DE SÁLÁRIO MÍNIMO

No mesmo leito em que correm águas confusas, circula um estudo atribuído “à FGV” (Fundação Getúlio Vargas), pelo qual o salário mínimo seria hoje de R$ 400, em lugar de R$ 880, caso a PEC de hoje tivesse sido aplicada a partir de 1998.

Eis que o estudo é de autoria de um economista que é apenas professor da FGV e que não fala em nome dela. Tanto quanto da consultoria da qual é funcionário. O modelo que ele criou é ficcional.

Seria o mesmo que publicar uma projeção sobre a taxa de inflação de 2015, caso em 1994 não tivesse entrado em vigor o Plano Real.

Ou projetar as reservas cambiais se, em lugar da industrialização a partir dos anos 1950, o Brasil fosse hoje apenas um grande exportador de café.

Dentro desse cenário de desinformação crônica, o problema não está na atuação de cidadãos que exercem o direito de confundir.

O problema está na ausência de mecanismos institucionais de defesa na comunicação do governo.

O próprio presidente Michel Temer, recentemente entrevistado pela rede CBN de rádio, deu uma péssima resposta ao ser indagado sobre os cortes em saúde e educação.

Afirmou que seus críticos “procuram ignorar” que o projeto de Orçamento para 2017 já foi enviado ao Congresso.

Mas ele não explicou o essencial: para saúde e educação, a dotação orçamentária crescerá mais um ano, antes que seja congelada e reajustada apenas pela inflação do ano anterior.

Há toda uma outra discussão que poderia ocorrer segundo as normas da boa-fé. Ela diz respeito ao histórico descompasso entre a inflação do país e a inflação dos insumos da saúde.

O preço desses insumos cresce mais rápido, e aceleraria se o dólar se descolar de seu atual patamar.

Ou será que se poderia colocar no mesmo pacote a saúde e aPrevidência, para que a economia com o corte das fraudes previdenciárias (aposentadoria indevida por invalidez) deixasse mais dinheiro para o Sistema Único de Saúde (SUS)?

É um bom tema. Mas para que a discussão chegue à sociedade não basta que o governo dialogue com o Congresso. Ele precisa ter competência comunicacional. O que está longe, por enquanto, de ser o caso.